Carta do Professor Lurildo Saraiva à Direção do ANDES

Segue abaixo carta divulgada pelo grande amigo e professor Lurildo Saraiva sobre o acordo assinado entre ANDES e Governo Federal. Deste assunto faço duas pontuações:
1 – Pouco acompanhei de fato as movimentações Brasil afora acerca do tema.
2 – O que sei é que um aumento salarial de 4% enquanto vivemos momento de cerca de 6,5% de inflação ao ano soa de forma ridícula.
Segue abaixo o e-mail do Professor:
Ari, leia e bote no seu blog a Nita ao “acordo Dilma_Andes”, que fiz frente ao arrocho salarial que conduz, por ordem do BM/FMI. Aguardo noticias. Abs, Lurildo

Professora Marina e demais integrantes da Direção da ANDES,

Indignado e estarrecido, li nota do meu sindicato, a ADUFEPE – hoje, na verdade,
transformado em associação beneficente ou grêmio estudantil, por ação do PT e do PC do B,
que o comandam – que a ANDES assinou acordo com o Governo Federal, que produz arrocho
salarial ímpar, a lembrar os tempos da ditadura, altamente lesivo aos interesses maiores da
Docência Superior, e em última análise, à própria Nação e à Cidadania. Foi difícil imaginar
sequer a ocorrência de semelhante ação. Não é difícil perceber que os senhores não tinham o
direito de fazer tal acordo, porque contrariava decisões soberanas em várias assembléias de
professores de todo o Brasil, que clamavam por greve em várias delas.

Sou médico e professor de Medicina há 41 anos e testemunho diariamente descrições
de quadros humanos de enorme sofrimento, por carência de médicos, de hospitais, de
medicamentos, de transporte público, de habitações decentes, de ruas, sob violenta luta de
classes, que assusta os que moram nos grandes centros urbanos do nosso país, notadamente

os que sobrevivem nas suas periferias. Explicando esta situação dramática a estudantes meus,
oriundos dos estratos mais ricos da nossa sociedade, muitos não creram que com todos esses
anos, o meu salário líquido não atingisse a soma de 5.000,00 – muitos disseram, “faça greve,
professor, isto é um absurdo!” E dói ver que a minha Associação Maior, criada em plena
ditadura militar, não veja isto, se humilhe, se rebaixe, a crer que no próximo ano “eventuais
distorções serão corrigidas”, esquecendo do nosso ditado nordestino: “quem muito se abaixa,
a bunda aparece”, pois revela medo de classificação de “sindicato de radicais”, como se a
luta por um mundo melhor e mais justo pudesse prescindir de radicalismo e de dignidade de
posições.


Muitos dos senhores não viveram a ditadura militar. Eu a vivi nos seus 21 anos e dela fui
vítima, carregando doença intestinal sem cura, nascida nos tempos do terror de Medici. Os
senhores não viram o corpo dilacerado do Padre Henrique, como eu vi, os senhores não
testemunharam o indescritível sofrimento de Mata Machado, os senhores não olharam os
muros da casinha de Dom Helder Câmara metralhados pelo CCC pernambucano, os senhores
não assistiram a corpos violentados em prontos socorros, de companheiros nossos pela polícia
política ditatorial. E até hoje semelhante ofensa à dignidade do ser humano foi resgatada por
nossos dirigentes que se dizem “de esquerda”, mas ligados a lambe-botas de generais, como
o José Sarney, ou nomeando para cargos públicos relevantes figuras que habitaram nos anos
de chumbo o temível Comando de Caça aos Comunistas. Com gente traidora dessa laia não
podem existir acordos, meus colegas, não podem!


Sabendo disto que os senhores fizeram, sem a minha anuência e a de muitos docentes do
nosso país, tenho vontade de me desligar do meu “sindicato”, sobretudo quando dando aulas
de MEDICINA sinto no meu nariz e na dos meus alunos, como eles falam, enorme fedentina
que exala de banheiros de professores, imundos e mal conservados, junto aos auditórios, ou


a tentar retirar dinheiro do caixa da agência do BB do Hospital das Clínicas da UFPE, onde a
mesma fedentina volta, em atentado à dignidade humana e à saúde pública, sem sabermos
a quem procurar ou a quem denunciar. Tudo isto testemunhando a decadência da Escola de
Medicina do Recife, que foi a segunda melhor do país em fins do governo Goulart, em plena
administração de uma Senhora que foi torturada por ação dos mesmos que hoje estão ao seu
lado.


Espero que esta minha Nota toque a sensibilidade dos senhores e faça com que reflitam e
revejam o grosseiro erro que cometeram. Um mundo justo só se conquista com LUTA, não
com é com medo e dubiedade, não é com retrocesso e “acordos”, e sim, com AVANÇO!


Atenciosamente,


Lurildo R. Saraiva


Professor Associado de Cardiologia


Universidade Federal de Pernambuco


[email protected]

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2 comentários

  1. E ai Ari, como vc está?
    Cara, tenho incentivado minha família e amigos para apoiar o movimento Eu Voto Distrital. Conhece? Vamos bater um papo depois.
    Brunão (do sanduíche rs)
    [email protected]

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