Perspectivas para o governo Dilma

Tropa de Elite do PMDB
Queria compartilhar algumas análises por aqui faz alguns dias. Mas estou sem casa ainda e com acesso precário a internet, então já viu…
Mas vamos lá. Os 3 primeiros pontos são um pequeno balanço das eleições. Depois entro nas questões do futuro governo Dilma.
1 – Antes de tudo, é preciso comemorar o que foi uma vitória: a derrota de Serra. Para mim, esta foi a grande conquista desta eleição. Pedir voto nulo era apostar no “quanto pior, melhor”. Irresponsabilidade. Se num primeiro turno vota-se a favor de uma candidatura, no segundo, o voto é contra alguém.
2 – Por mais que o político Serra não seja dos mais conservadores dentro da direita brasileira, sua candidatura conseguiu ser pior que a do picolé de chuchu Geraldo Alckmin. Sua campanha conseguiu aglutinar o que há de mais atrasado para um debate eleitoral. Até “reavivar” a TFP (Tradição, Família e Propriedade) o Zé conseguiu. A onda de preconceito e ignorância foi sem precedentes. Tais acontecimento põem em cheque, ao meu ver, os argumentos dos que defendem que estamos evoluindo para uma democracia mais consistente e consolidada.
3 – Infelizmente, a esquerda que se propôs a disputar a eleição teve um péssimo desempenho. Plínio cumpriu um importante papel no inicio do processo eleitoral, quando trouxe à tona alguns temas importantes como a questão do Plebiscito pelo Limite da Propriedade de Terra que ocorreu de 1º a 7 de setembro. Mas logo se perdeu. A Marina Silva, com o perdão de alguns companheiros e companheiras que a apoiaram, não representou absolutamente nada da esquerda neste processo. Não trouxe acumulo politico, muito menos ajudou na formação da consciência de classe. E quanto ao PSTU? Zé Maria teve menos votos que Eymael. Sei que o foco não deve estar nos votos obtidos, mas eles são importantes para analisarmos a relevância dos debates realizados para o povo brasileiro.

4 – E os próximos 4 anos? Primeiro sobre a oposição partidária de direita: ela continua tão perdida quanto vem sendo nos últimos 8 anos. Não tem projeto, não tem idéias, não tem nada. Sai do processo eleitoral dividida e bem menor no Congresso Federal. A direita mais “esclarecida” está com o governo Lula. Ou alguém acha que temos mais de 10, 20 ou 30 deputados de esquerda na Câmara?
5 – A direita mais ideológica não está na linha de frente dos partidos. Está na grande mídia, nas igrejas… É um erro achar que a direita mais reacionária está morta ou enfraquecida. Infelizmente, o lulismo não contribuiu em nada para aumentar a consciência de classe da população brasileira.
6 – Dilma não tem o carisma, nem a popularidade de Lula. Isto é um fato. Logo, avalio, ela dependerá muito mais das alianças e do fisiologismo reinante na Câmara e no Senado. Vejo alguns empolgados com a suposta maioria conquistada no legislativo, mas cabe a pergunta sobre a quem servirá esta maioria? É uma maioria de esquerda? Qual vai ser a tônica dos projetos e leis aprovados nestes 4 anos? Vejo como exemplo o senador eleito aqui em Pernambuco pela base governista, Armando Monteiro Neto, do PTB. Típico parlamentar que seria da situação independente de quem ganhasse este 2º turno.
7 – Nem vou criticar muito o que Dilma falou em campanha, pois, infelizmente, tudo que é dito é baseado em pesquisas, levantamentos qualitativos, enfim. É a guerra pelo voto. O problema é o que vem ocorrendo no pós-eleição. Seu discurso após confirmada a vitória foi ruim. Principalmente porque aliviou pro lado da grande imprensa que tentou lhe derrubar. Outro ponto negativo é como vem sendo construída a transição. E os nomes especulados para assumir ministérios também não são nada animadores. A começar pela manutenção do Meirelles e terminando com a possibilidade de Palocci na Saúde.
8 – Lula foi muito feliz com a implantação de políticas anticíclicas em pleno ascenso da crise do capital mundial desde 2008. Um exemplo foi bancar a diminuição do IPI, para incentivar o consumo, num momento em que os mais conservadores pediam arrocho e juros mais altos. Isso impediu que sentíssemos maiores consequências da crise no Brasil. Mas é inegável que surfamos numa conjuntura mundial favoravel a nossa economia. Não deve demorar para a crise apertar novamente (Vejam a situação da Grécia e da Espanha, e num outro patamar a da França). E aí não saberemos as consequencias por estas bandas. São imprevisiveis. A história já nos mostrou que os limites da social-democracia estão no avanço do capitalismo. Quando há crise neste, muitas das supostas conquistas também caem como um castelo de cartas.
9 – Independente de governo, precisamos fazer um bom balanço das táticas adotadas dentro da esquerda, dentro das nossas organizações e buscar avançar desde já! É preciso investir na formação política, nas lutas de massa, na juventude. Não vejo outro caminho para o momento. A conjuntura de descenso nos traz muitas dificuldades, mas é preciso que gastemos energias em experiências organizativas que nos ajudem a construir a unidade. Sem isso, continuaremos extremamente fragilizados perante ao reacionarismo, seja da velha direita, seja dos governos agora eleitos.
EM TEMPO: chamar o governo Lula de social-democracia seria um tanto elogioso. Ele está longe até disso. Só fiz questão de pontuar desta maneira porque vejo bons nomes defenderem esta posição, como o Marco Aurélio Garcia. Acho que para ser social-democrata, falta muito coisa ainda a este governo petista.

3 comentários

  1. Oi Ari.
    Legal a análise. Concordo com você que a oposição de esquerda partidária está desorganizada e sem projeto. "Sem idéias" acho que seria um pouco de exagero hehehe, mas realmente a situação não está fácil. Apesar de numericamente haver um crescimento e haver uma troca qualitativa mto importante no senado (o jose nery, que saiu trocado pela Marinor, era um zero a esquerda) não consigo sentir isso como um avanço "incontestável". O dado objetivo é incontestável, mas tem alguma coisa de errada com isso, que no subjetivo nao me parece fortalecimento. Mas posso estar com uma avaliação viciada, pois estou no RS onde nem a expectativa mais moderada se concretizou.
    Do lado governista que volta e meia "flerta" com a esquerda, há uma expectativa forte que vou citar aqui só pra deixar registrado pra gente conferir depois: O trio Pain, Pinheiro e Lindenberg no senado. Cá entre nós, eu conheço gente do PSOL empolgadissima com o trio. Vamos ver o que rola.
    Abraços

  2. O "sem ideias" está referido à direita, didi hehe. Nao cheguei a me referir aos parlamentares do psol. Aliás, gosto muito dos mandatos de ivan valente e chico alencar. Dois grandes deputados e militantes de primeira.

    Quanto à empolgacao citada por voce, so posso encarar qualquer tipo de entusiasmo com o lindenberg, por exemplo, como retrato da nossa crise programatica e de valores.

    Abracos!

  3. Tá certo. Também gosto do mandato do Ivan, o chico eu acompanho pouco.
    Sobre o trio do senado, eu to pagando para ver a aposta alheia. Do Pain eu gosto. Pinheiro e Lindenberg conheço pouco.
    Beijocas

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