Onde está o poder?


Impressionante como um processo eleitoral tão dispendioso para o povo brasileiro não contribui em absolutamente nada para um aumento de consciência de nosso povo. 


Mesmo que isto seja esperado, não consigo deixar de me indignar. Só com o horário eleitoral (que não tem nada de gratuito) o povo brasileiro arca com quase R$ 1 bilhão. Dá para imaginar o resto de toda estrutura, né?

O fato é que eleição a eleição, a tendência que percebemos, com raras exceções, é de um completo esvaziamento do debate necessário sobre as questões e problemas brasileiros. E quem poderia qualificar as discussões, muitas vezes se perde no moralismo que não leva a canto nenhum, vide a campanha da senadora Heloisa Helena nas eleições presidenciais passada.

Acredito que o debate nunca foi tão fraco como tem sido este ano. O Plínio, apesar dos muitos defeitos atrelados à sua candidatura, é quem ainda traz alguns elementos importantes. Infelizmente as candidaturas do PCB e do PSTU também não tem cumprido o papel de discutir o Brasil.

E o que falar da candidatura petista? Nas eleições de 2006, Lula ainda trouxe a pauta da questão das privatizações do governo FHC, etc. E o que traz a Dilma? Não sei. E em alguns pontos, sua campanha mais deseduca. E exemplifico trazendo um pouco da área com a qual trabalho: a saúde. Um espaço foda pra poder discutir acesso à saúde, atenção integral, qualificação da rede, da atenção primária… E qual a proposta da ministra? 500 UPAs! Aí é pau, né? Bancar esta idéia, fortalecendo o imaginário social da atenção biomédica é intragável para uma candidatura dita de esquerda.

Ao menos deu pra se divertir acompanhando o desespero completo do PSDB/DEM/Grande mídia com a derrota iminente! Lances hilários e descaramento da mídia. 

E nas eleições pra governo estadual? A situação é sofrível. Estou por uns dias em Fortaleza e hoje pude assistir o debate organizado pelo DCE da UFC. Só para se ter uma idéia, para o candidato do PSTU, a solução para o uso descontrolado de agrotóxicos é a “estatização do agronegócio” (????). A candidata do PSOL não expôs sequer uma proposta. Nem sobre saúde, nem sobre habitação, nem sobre educação, nada. Restringiu-se a um debate moralista, lembrando-me os tempos de HH. Para o candidato do PSDB ao justificar a proposta de escolas em tempo integral (ops, uma proposta) disse que era uma forma de nao deixar o jovem com tempo ocioso podendo ter tempo para se envolver com crimes, violencia, drogas, etc. Ou seja, o jovem não tem protagonismo, não tem criatividade, não tem potencialidades. Tem só defeitos e quanto menos tempo livre tiver, menos besteiras fará. O resumo final da história é que em cerca de 2 horas de debate que assistí, praticamente não se falou em propostas. Sobravam ataques e defesas. 

E em Pernambuco? Gostei de uma análise do PSOL que aponta pro fato de Eduardo Campos estar construindo e fortalecendo o novo campo da direita em Pernambuco. Basta ver quem compõe o poder no Estado hoje. Basta ver o esforço que o governo tem feito pra escantear João Paulo. 
Só para nao deixar passar, o que Eduardo tem feito com a saúde, não vi nem os de “direita” fazerem. Para além de fazer confete ao defender que os problemas na saúde se resolverão com hospital e UPA, o governador tem sido fiel à prática de entrega do estado. O IMIP já tem sido definidor de muitas das políticas de saúde em nosso estado. E a tendencia é isso se intensificar. Infelizmente.

Faz um tempo que precisava desabafar (rs). O grande nó é que para a grande maioria dos partidos, disputar eleição tornou-se parte da estratégia e não da tática. A vitória eleitoral passou a ser objetivo-fim. E infelizmente tem sido este o caminho dos que tem feito esta opção. Definitivamente, não sou contra as eleições por principio. Tenho convicção que já foi e ainda será uma boa tática de luta, a depender da conjuntura colocada. Basta olhar as experiências que a História nos mostra. 

Não precisamos nem ir muito longe: exemplo da Bolívia. Muitos me apontam como um bom resultado da disputa eleitoral. E eu concordo. Mas há de se considerar o contexto social e politico em que se encontrava / se encontra aquela nação. Houve um acumulo por parte das forças de esquerda bem importante antes da disputa eleitoral, que passou a ser mandatória em determinado momento. Vivemos um momento em que é preciso acumular forças na sociedade e, infelizmente, as eleições não tem cumprido este papel para o campo popular. Lenin colocava como um dos indicadores para avaliar as ações políticas o quanto que estávamos fortalecendo a consciência de classe da população? E aí?

De toda forma, e sempre considerando que não existem fórmulas e é o contexto o definidor da escolha de determinadas práticas para determinados locais, há candidaturas que ajudam, que estão próximas das manifestações populares, que estão do lado dos movimento sociais. Uma delas é a do Deputado Federal, e candidato à reeleição, Paulo Rubem Santiago do PDT-PE. Votei em Paulo nas últimas eleições e votarei novamente. Tenho certeza que seu mandato continuará contribuindo com muitas das lutas em nosso Estado. Há duas outras candidaturas pelas quais torço: Chico Alencar (RJ) e Ivan Valente (SP), ambos pelo PSOL. Parlamentares muito combativos e que também devem exercer bom papel, através de seus mandatos, durante os próximos 4 anos.

7 comentários

  1. Engraçado, discordamos em muita coisa sempre… mas nestes nomes não discordarei. São três dos nomes que ainda me dão alguma esperança. E concordo também com as críticas a Eduardo.

    Muito bom texto!!

  2. Muito bom o texto, exemplifica bem o quadro político que vivemos. Ainda temos muitos apagões para melhorar e precisamos de muita coragem e determinação para ir em busca do tempo perdido. Principalmente, quando não somos mais apáticos e cegos frente a tudo isso.
    Só não sei ainda como, mas vamos fazendo…e andando…
    =D

  3. Ari, já conhecia seu blog mas não tenho o hábito de transitar sempre por aqui, vou ficar mais próximo! Gostei do texto. Certamente existe um esvaziamento do debate político bastante claro nessas eleições. Vê-se o horário eleitoral como quem vê uma prateleira de supermercado: compro esse ou aquele? Vende-se um produto. Compra-se um candidato. E eles custam caro…

  4. É isso ai Cardona, precisamos nos encontrar pra debatermos mais sobre o proximo ano, não concordando com a ultima parte mas tudo bem, avancemos.
    Dmitri

  5. É ruy… acho q nem é tao dificil mais uns poucos. Mas me vieram rapidamente à mente.

    Pri… vivemos tempo de homens e mulheres partidos. Conhece o poema "tempo de não lua" do mario lago. Tem aqui no blog. Para mim, retrato fiel de nossos tempos.

    Valeu, flavio. O blog é pros amig@s mesmo. Seja bem vindo aos debates e comente sempre

    Vamos conversar, dmitri. Aviso qnd for a recife. Mas gostaria que comentasse suas divergencias hehe. Debate é sempre bom!

    Tovisquinha! Tod@s temos nossas clarezas hehe. Beijao!

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