E pra não dizer que não falei das flores…

E ai pessoal,

Não tinha tocado nesse assunto antes pra não correr o risco de cair em clichês e tal, como fazem boa parte das pessoas, mas… pensando bem, termino começando com clichê até no título.

Bom, deixa pra lá. Vamos ao que interessa.

Completamos recentemente 10 anos da morte de Chico Science (Chico morreu num acidente de carro em 2 de fevereiro de 1997). Mais recentemente ainda, em 13 de março, tivemos a data do aniversário de Chico. Caso fosse vivo, completaria agora 41 anos. Mas não quero fazer resgate histórico nenhum nesse momento. Na realidade, esta postagem é porque percebi que pouquíssimas pessoas já leram o manifesto de lançamento, digamos assim, do Manguebit (ou, como terminou chamado depois, do Mangue Beat) escrito por Chico Science e Fred 04.

Tal manifesto recebeu o nome de “Caranguejos com cérebro” e foi concebido em 1992.
Leia-o abaixo. Grande Abraço!

CARANGUEJOS COM CÉREBRO

MANGUE – O Conceito
Estuário. Parte terminal de um rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.
Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem do alagadiço costeiro.
Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas de casa, para os cientistas os mangues são tidos como os símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.

MANGUETOWN – A Cidade
A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex) cidade “maurícia” passou a crescer desordenadamente às custas do aterramento indiscriminado e da destruição de seus manguezais.
Em contra partida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de “progresso”, que elevou a cidade ao posto de “metrópole” do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade. Bastaram pequenas mudanças nos “ventos” da história para qe os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos 60. Nos últimos trinta anos a síndrome da estagnação aliada à permanência do mito de “metrópole”, só tem levado ao agravamento acelerado do quadro e miséria e caos urbano.
O Recife detém hoje o maior índice de desemprego do país. Mais da metade dos seus habitantes moram em favelas e alagados. Segundo um instituto de estudos populacionais de Washington, é hoje a quarta pior cidade do mundo para se viver.

MANGUE – A Cena
Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico pra saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruir as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paraliza os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas vais do Recife. em meados de 91 começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo é um “circuito energético”, capaz de conctar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.
Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em quadrinhos, tv interativa, anti-psiquiatria, Bezerra da Silva, Hip Hop, midiotia, artismo, música de rua, John Coltrane, acaso, sexo não virtual, conflitos étnicos e todos os avanços da química aplicada no terreno da alteração e expansão da consciência.

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